O PAI NOSSO
Uma interpretação metafísica
Escrito por Emmet Fox(1886-1951) em 1938
Escrito originalmente no livro: THE SERMON ON THE MOUNT
A Oração Pai Nosso é o mais importante de todos os documentos do Cristianismo. Foi minuciosamente construída por Jesus com certos fins muito claros em vista. Por isso, de todos seus ensinamentos, é de longe o mais conhecido e o mais frequentemente citado. É, sem dúvida, um denominador comum entre todas as igrejas Cristãs.Todas elas, sem exceção, fazem uso da Oração Pai Nosso; é talvez a única área onde todas se cruzam. Toda criança cristã é ensinada a Oração Pai Nosso e qualquer Cristão que diz rezar a usa quase todo dia. Seu uso efetivo provavelmente ultrapassa o de todas as outras orações juntas. Sem dúvida, todas pessoas que querem seguir o caminho que Jesus demonstrou deve se comprometer a usar a Oração Pai Nosso, inteligentemente, todo dia.
Para fazer isso, devemos entender que a Oração é um todo orgânico e cuidadosamente elaborado. Muitas pessoas rezam a Oração mecanicamente como papagaios, esquecendo do aviso que Jesus nos deu quanto a meras repetições e, é claro, ninguém tem nenhum proveito dessa maneira.
A Grande Oração é uma fórmula compacta para o desenvolvimento da alma. Foi projetada com o máximo de cuidado para esse objetivo; para aqueles que a usarem regularmente, com entendimento, irão experienciar uma verdadeira mudança da alma. O único progresso é essa mudança, o que a Bíblia chama de nascer de novo. É a mudança da alma que importa. A mera aquisição de novo conhecimento recebido de maneira intelectual não altera a alma. A Oração Pai Nosso é especialmente projetada para se obter essa mudança da alma e quando regularmente usada irá invariavelmente atingir esse objetivo.
Quanto mais a pessoa analisar a Oração Pai Nosso mais magnífico a sua construção se mostra ser. A Oração supre a necessidade de qualquer pessoa seja qual for o nível que esteja. Não somente fornece um rápido desenvolvimento espiritual para aqueles que já estão suficientemente mais avançados, mas também em seu significado mais superficial supre necessidades das pessoas com mentalidades mais simples e até mentalidade materialista, com exatamente o que elas precisam naquele momento, se usarem a Oração sinceramente.
Essa mais fantástica de todas Orações foi projetada com ainda outro objetivo em vista, tão importante quanto os outros. Jesus previu que, conforme os séculos fossem passando, o seu simples e primitivo ensinamento acabaria gradualmente sendo coberto pelos mais variados tipos de coisas externas que não tem nenhuma ligação com o ensinamento. Ele previu que pessoas que nunca o conheceram, confiando sinceramente e sem dúvidas em seus intelectos limitados iriam criar teologias e sistemas doutrinários assim obscurecendo a simplicidade direta da mensagem espiritual e, assim fazendo, acabariam erguendo uma parede entre Deus e o homem. Ele projetou a Oração de forma que atravessaria com segurança esses tempos sem que seja adulterada. Ele a organizou com habilidade consumada de forma que ela não pudesse ser distorcida ou adaptada a nenhum sistema feito pelo homem; de forma que, de fato, pudesse carregar toda a Mensagem do Cristo dentro de si e mesmo assim não ter nada na superfície que possa atrair a atenção desse tipo de pessoa sistemática incansável. E foi assim que, através de todas mudanças e chances da história do Cristianismo, essa Oração chegou até nós incorrupta e intocada.
A primeira coisa que notamos é que a Oração naturalmente possui sete cláusulas. Isso é bastante característico da tradição Oriental. Sete simboliza plenitude do indivíduo, a perfeição da alma individual, assim como o número doze seguindo a mesma convenção significa plenitude corporativa. Na prática, frequentemente encontramos uma oitava cláusula adicionada--”És teu o reino, o poder e a glória”--mas essa, apesar de ser excelente afirmação, não é realmente parte da Oração. As sete cláusulas são colocadas com o máximo de cuidado, em perfeita ordem e sequencia e contém tudo que é necessário para nutrir a alma. Vamos considerar agora a primeira cláusula.
Pai Nosso
Essa simples afirmação por si só é um sistema de teologia definitivo e completo. Fixa claramente e distintamente a natureza e caráter de Deus. Resume a Verdade da Existência. Diz tudo que o homem precisa saber sobre Deus, e sobre ele, e seu vizinho. Qualquer coisa que for adicionada pode ser somente por comentário e provavelmente só irá obscurecer o real significado do texto. Oliver Wendell Holmes(escritor do século 19) disse: “Minha religião se resume nas duas primeiras palavras da Oração Pai Nosso,” e muitos de nós concordamos totalmente com ele.
Repare na simples, clara e definitiva afirmação--”Pai Nosso”. Nessa cláusula Jesus estabelece de uma vez por todas que a relação de Deus com homem é a de pai e filho. Isso elimina qualquer possibilidade de a Divindade ser um tirano severo e cruel que é frequentemente retratado pela teologia. Jesus diz que definitivamente a relação é como pai e filho; não como um opressor Oriental lidando com seus escravos rastejantes, mas sim pai e filho. Agora, todos sabemos que homens e mulheres, independente de quanto eles podem falhar em outras áreas, quase sempre fazem o melhor que podem pelos seus filhos. Infelizmente pais cruéis e malvados são encontrados, mas são extremamente raros os casos. A vasta maioria de homens e mulheres fazem o melhor para lidar com seus filhos. Falando da mesma Verdade em outro lugar, Jesus disse: “Se você, que está tão cheio do mau, mesmo assim faz o melhor pelos seus filhos, o quanto acha que Deus, que é inteiramente bondoso, fará por você”; e então ele inicia a Oração estabelecendo o caráter de Deus como um perfeito Pai que lida com Seus filhos.
Perceba que essa cláusula que fixa a natureza de Deus, ao mesmo tempo fixa a natureza do homem, porque se o homem é descendente de Deus, ele deve partilhar da natureza de Deus sendo que a natureza dos descendentes devem invariavelmente ser similar a de seu pai. É uma lei cósmica que semelhante gera semelhante. É impossível em um arbusto de rosas brotar lírios, ou que uma vaca dê a luz a um cavalo. O que for gerado deve ser, obrigatoriamente, da mesma natureza que seu gerador; sendo assim, porque Deus é Espírito Divino, o homem deve obrigatoriamente ser Espírito Divino também, não importando o que for que as aparências estejam tentando provar o contrário.
Vamos parar um instante e tentar entender o quão formidável está sendo esse passo adiante que estamos dando no caminho de apreciar o ensinamento de Jesus nesse ponto. Você percebe que em um só assopro foi levado pra longe noventa e nove por cento da velha teologia com um Deus vingativo e seus escolhidos e favoritos indivíduos, seu eterno fogo do inferno entre outras terríveis parafernálias da imaginação doentia e apavorante do homem. Deus existe--e o Eterno, Todo-Poderoso, Todo-Presente Deus é o Deus amoroso da humanidade.
Se você meditar sobre esse fato até o ponto de obter um entendimento do que realmente significa, a maioria de suas dificuldades e doenças físicas desapareceriam, porque esses estão enraizados e fundamentados no medo. A causa de todos os transtornos é o medo. Se você pudesse perceber, até certo ponto que Sabedoria Onipotente é seu Pai amoroso e existente agora, a maioria de seus medos sumiriam. Se você pudesse entender totalmente, todas as coisas negativas em sua vida iriam desaparecer e você demonstraria perfeição em cada área da sua vida. Agora você enxerga o objetivo de Jesus ao colocar isso como primeira cláusula.
Em seguida percebemos que Jesus não diz “Pai Meu”, mas ”Pai Nosso”, e isso indica, muito longe da possibilidade de engano, a verdade quanto a irmandade do homem. Isso força nossa atenção logo de início ao fato de que, sem dúvida, todos os homens são irmãos, filhos de um único Pai; e de que “não existe algo do tipo Judeu ou Grego, não existem coisas como homens unidos ou livres, não há escolhidos ou excluídos,” porque todos os homens são irmãos. Aqui Jesus, fazendo seu segundo ponto, elimina toda a cansativa tolice quanto a uma “raça escolhida, ” e a espiritualidade superior de um grupo em comparação com esse ou aquele outro grupo de humanos. Ele elimina a ilusão de que membros de determinada nação, ou raça, ou território, ou grupo, ou classe, ou tribo, ou cor são, aos olhos de Deus, superior em relação a outro grupo. A crença na superioridade de certo grupo em particular, ou “classes sociais”, como os psicólogos falam, é uma ILUSÃO a qual a humanidade é bastante propensa, mas no ensinamento de Jesus essa ilusão não tem espaço. Ele ensina que o que importa no homem é a condição espiritual da sua própria alma e, enquanto ele estiver seguindo o caminho espiritual não faz diferença alguma o grupo que ele pertence ou não pertence.
O último ponto que está implícito é que devemos orar não só pra nós mesmos mas por toda a humanidade. Todo estudante da Verdade sabe que deve manter um pensamento da Verdade da Existência focado em toda humanidade por um instante ao menos uma vez por dia, sendo que nenhum de nós vive pra nós mesmos ou morre pra nós mesmos, porque somos sem dúvida verdadeiramente--e de forma muito mais literal do que as pessoas desconfiam--membros de um mesmo corpo.
Agora podemos começar a ver o muito mais que está contido do que aparenta na superfície dessas simples palavras “Pai Nosso”. Simples--podemos dizer até inocentes-- palavras aparentemente, mas Jesus ocultou um explosivo espiritual que irá inevitavelmente destruir qualquer sistema feito pelo homem que mantém a raça humana em limitação.
Que Estás no Céu
Tendo estabelecido a paternidade de Deus e a irmandade do homem, Jesus segue em frente para expandir sobre a natureza de Deus e descrever os fatos fundamentais da existência. Tendo mostrado que Deus e homem são pai e filho, ele avança para delinear a função de cada um no grande esquema das coisas. Ele explica que é da natureza de Deus estar no céu, e do homem estar na terra, porque Deus é Causa e homem manifestação. Causa não pode ser expressão, e expressão não pode ser Causa e devemos ter cuidado para não confundir essas duas coisas. Aqui Céu representa Deus ou Causa, porque na fraseologia da religião, céu é o termo para Presença de Deus. Em metafísica é chamado de Absoluto, porque é o termo para Existência Pura Incondicional, de ideias arquetípicas. A palavra “terra” significa manifestação, e a função do homem é manifestar ou expressar Deus, ou Causa. Em outras palavras, Deus é a Infinita e Perfeita Causa de todas as coisas; mas Causa deve ser expressada, e Deus se expressa por meio do homem. O destino do homem é expressar Deus nas mais gloriosas e magníficas expressões. Algumas dessas expressões podemos observar sendo o que rodeia o homem; primeiro o seu corpo físico, que é na verdade somente a mais íntima de sua personificação; depois o seu lar, seu trabalho, seu lazer, em resumo, toda sua manifestação. Expressar significa demonstrar para o exterior ou se fazer visível a aquilo que já existe implicitamente. Toda característica ou aspecto da sua vida é na verdade uma manifestação ou expressão de algo na sua alma.
Alguns desses pontos a princípio podem ser um pouco abstratos; mas sendo que são os mau-entendidos quanto a relação entre Deus e o homem que causam todas as nossas dificuldades, é compensador toda quantia de esforço que desprendemos para entender corretamente essa relação. Tentar obter manifestação sem Causa é ateísmo e materialismo, e sabemos aonde esses irão nos levar. Tentar obter Causa sem manifestação leva o homem a supor-se ser um Deus particular, e isso comumente leva a um estado de megalomania(super valoração mórbida de si mesmo) e um tipo de paralisia de expressão.
O importante a entender é que Deus está no céu e o homem na terra, e que cada um tem seu próprio papel no esquema das coisas. Apesar de serem Um, não são iguais. Jesus estabelece esse ponto cuidadosamente quando diz, “Pai nosso que estás no céu”.
Santificado seja o vosso nome
Na Bíblia, como nos demais lugares, o “nome” de qualquer coisa remete a natureza essencial ou caráter daquela coisa, assim sendo, quando nos for dito algo em relação ao nome de Deus, estamos sendo informados sobre Sua natureza, e Seu nome e Sua natureza, Jesus diz ser, que é “santificado.” Mas o que a palavra santificado realmente significa? Bem, se você rastrear sua derivação no Inglês Antigo, você vai descobrir um fato extraordinário muito interessante e significante. A palavra “santificado” tem o mesmo significado de “sagrado”, “completo”, “inteiro”, “cura” ou “curado”; assim vemos que a natureza de Deus não é somente merecedora de nossa veneração, mas também é completa e perfeita--completamente bondosa. Algumas consequências muito extraordinárias seguem a partir disso. Nós havíamos concordado que um efeito deve ser de natureza similar a sua causa e então sendo assim a natureza de Deus santificada, tudo que se segue dessa Causa deve ser santificado também. Do mesmo jeito que um arbusto de rosas não pode produzir lírios, Deus não pode causar ou enviar nada além de perfeita bondade. Como a Bíblia explica, “A mesma fonte não pode jorrar água doce e amarga.” A partir disso se segue que Deus não pode, como as pessoas as vezes pensam, enviar doença ou problema, ou acidentes--muito menos morte--pois essas coisas não fazem parte de Sua natureza.
“Santificado seja o vosso nome” significa “Vossa natureza é totalmente bondosa, e Vós és o autor somente do mais perfeito bem.” Seus olhos são dos mais puros para olharem e verem o mau, e não podes olhar para a iniquidade. Se você acha que Deus enviou alguma dificuldade pra você, por seja qual for a razão, você está dando poder aos seus problemas, e isso faz com que se torne extremamente difícil de se livrar deles.
Venha a nós o vosso reino
Seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu
O homem sendo manifestação ou expressão de Deus tem um destino infinito a sua frente. Seu dever é expressar, de forma concreta e definida, as ideias abstratas as quais Deus fornece para ele, e para fazer isso, deve possuir poder criativo. Se ele não possuísse poder criativo, ele seria somente uma máquina pela qual Deus trabalharia--um automato. Mas o homem não é um automato; é uma individualização da consciência. Deus se individualiza em um número infinito de pontos focais da consciência, cada um muito diferente e, sendo assim, cada um desses é uma maneira distinta de conhecer o universo, cada um uma experiência distinta. Note cuidadosamente que a palavra “indivíduo” significa indivisível. A consciência de cada um é distinta de Deus e das outras mas no entanto nenhuma está separada. Como isso pode ser assim? Como pode duas coisas serem uma só e mesmo assim não serem a mesma coisa? A resposta é que no mundo material, que é finito, não podem, mas no mundo do Espírito, que é infinito, podem. Com a nossa consciência atual limitada de três dimensões, não podemos entender isso; mas intuitivamente podemos entender através da oração. Se Deus não se individualizasse dessa forma, haveria somente uma única experiência; como não é assim, há tantos universos como existem indivíduos para formá-los através do pensamento. “Venha a nós o vosso reino” significa que é nosso dever nos manter sempre ocupados em ajudar a estabelecer o Reino de Deus na terra. Isso quer dizer que o nosso trabalho é trazer cada vez mais as ideias de Deus para manifestação nesse plano físico. É por isso que estamos aqui. O velho ditado “Deus tem um plano pra todos, e ele tem um pra você também” está absolutamente correta. Deus tem planos maravilhosos para cada um de nós; Ele planejou uma carreira esplêndida, repleta de interesse, vida, alegria, para cada indivíduo, e se nossas vidas são tediosas, restritas ou limitadas, contaminadas, não é culpa Dele, mas é nossa.
Se você conseguir encontrar a tarefa que Deus planejou que você fizesse, e for fazer, você vai notar que todas as portas irão se abrir pra você; todos os obstáculos no seu caminho irão se dissipar; você será aclamado com brilhante sucesso; você será liberalmente recompensado do ponto de vista monetário; e você será gloriosamente feliz.
Na vida, todos nós temos o nosso lugar verdadeiro que sendo descoberto e alcançado seremos completamente felizes e totalmente seguros. Pelo outro lado, enquanto esse verdadeiro lugar não for encontrado não seremos nem felizes nem estaremos seguros, não importa quais outras coisas temos. Nosso verdadeiro lugar é aquele onde trazemos o Reino de Deus para manifestação, e dizemos sinceramente, “Venha a nós o vosso reino”.
Nós temos visto que muitas vezes o homem escolhe usar o seu livre-arbítrio de maneira negativa. Ele se permite pensar erroneamente, de forma egoísta, e esse pensamento errado traz pra ele todos os seus problemas. Ao invés de entender que é de sua natureza essencial expressar Deus, prestar-se totalmente pra vontade de seu Pai, ele tenta viver de sua própria maneira. Todos os nossos problemas são gerados a partir dessa tolice. Abusamos de nosso livre-arbítrio, tentando trabalhar separadamente de Deus; e o resultado mais que natural disso é toda a doença, pobreza, pecado, transtorno e morte que encontramos no plano físico. Não devemos nem por um instante tentar viver por nossa própria conta, ou fazer planos e planejamentos sem referência a Deus, ou supor que iremos ser felizes e obter sucesso se estamos tentando fazer qualquer outra coisa além de manifestar a Vontade Dele. Seja qual for o nosso desejo, seja algo relativo a nosso trabalho, ou nosso dever do lar, nossas relações com os outros, ou planos privados para usar nosso próprio tempo, se estivermos buscando satisfazer a si mesmo ao invés de Deus, estamos indo em direção a transtorno, problema, desapontamento e infelicidade, apesar de qualquer que seja a evidência tentando provar o contrário. Enquanto que, se, através de oração, escolhermos aquilo que sabemos ser a Vontade Dele, então estamos nos garantindo sucesso definitivo, liberdade e alegria, não importa qual for a disciplina e sacrifício próprio que possa envolver no momento.
Nosso trabalho é alinhar toda nossa natureza o mais rápido possível com a Vontade de Deus através de oração constante e vigilância ininterrupta sem qualquer tipo de ansiedade.
“Nossas vontades são nossas para torná-las Tuas.”
“Na Vontade Dele está a nossa paz”, disse Dante, e a Divina Comédia é na verdade um estudo em estados da consciência, onde o Inferno é o estado da alma se esforçando para viver sem Deus, o Paraíso representando o estado da consciência que atingiu união de forma consciente com a Vontade Divina, e o Purgatório a condição da alma que está lutando para passar de um estado para o outro. Foi esse sublime estado de conflito da alma que espremeu do coração do grande Augustine a súplica “Vós nos fizeste para Ti, e nossos corações não descansarão até que não repousem em Ti.”
O pão nosso de cada dia nos dai hoje
Por sermos filhos de um amoroso Pai, nós temos o direito de esperar que Deus irá nos suprir com tudo que precisamos. Crianças naturalmente e espontaneamente procuram seus pais quando precisam de qualquer coisa e, da mesma forma, devemos procurar Deus quando nós precisamos de algo. Se fizermos assim, com fé e entendimento, nunca procuraremos em vão.
É a Vontade de Deus que todos nós tenhamos vidas com saúde e felicidade, repleta de experiências com muita alegria; que estejamos sempre em desenvolvimento constante e com confiança e liberdade, dia por dia e semana por semana, fazendo com que nossos caminhos cada vez mais se expandam mais e mais em direção ao dia perfeito. Para esse objetivo iremos precisar de coisas como comida, roupas, abrigo, meios de viajem, livros, entre outros; acima de tudo, precisamos de liberdade; na Oração todas essas coisas estão incluídas na palavra pão. Então pão, quer dizer na verdade, não meramente comida em geral, mas sim todas as coisas que o homem necessita pra uma vida com saúde, felicidade, liberdade e harmonia. Mas, para obter isso devemos reivindicar elas, não necessariamente em detalhes, mas devemos, pedir elas, e temos que reconhecer Deus e somente Deus, e somente Ele, como a Origem e Fonte de todo o nosso bem. Falta de qualquer coisa é sempre rastreável ao fato de que estamos procurando em alguma fonte secundária, ao invés de Deus, Ele, o Autor, Criador e Distribuidor da Vida.
As pessoas acham que o fornecimento de suas necessidades se dão através de certos investimentos, ou de seu negócio, ou de um empregador, talvez; enquanto que esses são apenas canais usados para fornecimento e Deus sendo a Fonte. A quantidade de canais é infinita, a Origem é Uma. O canal que você está obtendo seus bens atualmente tem grande probabilidade de mudar, porque mudança é a Lei Cósmica para manifestação. Estagnação é na verdade morte; mas enquanto você souber que a Fonte de suas necessidades é o Espírito imutável, tudo está bem. O desaparecimento de um canal é somente o sinal de que outro vai se abrir. Se, pelo contrário, como a maioria das pessoas, você acreditar que o canal é a fonte, então quando esse canal falhar, e provavelmente irá, você se sente abandonado, porque você acredita que a fonte se esgotou--e, para fins práticos, no plano físico, as coisas são do jeito que acreditamos que elas sejam.
Um homem, por exemplo, acredita que seu emprego é a fonte da sua renda, e, por alguma razão, ele perde o emprego. O seu empregador fecha o negócio, ou diminui a quantidade de empregados da equipe, ou a empresa declara falência. Agora, porque ele acredita que sua posição profissional é a fonte de sua renda, a perda do emprego naturalmente significa pra ele a perda da fonte, e assim ele começa a procurar por outro emprego, e talvez tenha que procurar por bastante tempo e, enquanto isso, ele se encontra aparentemente sem nenhuma fonte de renda. Se esse homem tivesse percebido, através de Tratamento diário com Oração, que Deus é a origem do seu suprimento, e o emprego meramente como o canal usado por Deus para fornecer, então quando aquele canal se fechasse, ele teria encontrado outro canal se abrindo imediatamente e muito provavelmente um melhor que o de antes. Se ele acreditasse que Deus é o fornecedor, e sendo que Deus não pode mudar ou falhar ou se esgotar, o seu suprimento teria vindo de algum outro lugar, e o canal teria se estabelecido da maneira mais fácil possível.
Exatamente da mesma maneira, um dono de um negócio pode encontrar-se obrigado a fechar sua empresa por alguma causa fora do seu controle; ou alguém cujo fornecimento de recursos depende em ações ou títulos, de repente, nota que essa fonte se esgotou por motivos desconhecidos no mercado de ações, ou por alguma catástrofe em alguma fábrica ou mina. Se ele considera que seu negócio é o fornecedor de seus recursos para viver, então ele acreditará que seu fornecimento sucumbiu e irá, como consequência dessa crença, se ver totalmente abandonado; enquanto que, se sua confiança estiver em Deus, essa pessoa não dará importância ao canal ao qual seus recursos são fornecidos, sendo assim o canal será facilmente substituído por outro. De forma breve, devemos nos treinar para procurar em Deus, Causa, por tudo que precisamos, e o canal de fornecimento, que é inteiramente de segunda importância, vai resolver a si mesmo e manifestar-se.
Em seu significado oculto e mais importante, o pão nosso de cada dia significa a realização da Presença de Deus--uma sensação presente e viva que Deus existe não somente de forma nominal, em palavras, mas como a grande e única realidade; o sentimento de que Ele está presente conosco; e o sentimento de que, porque Ele é Deus, Todo-Poderoso, Todo-Bondoso, Todo-Sábio e Todo-Amoroso, não precisamos ter nenhum medo; que podemos confiar nele para cuidar completamente de nós; que Ele irá fornecer toda e qualquer coisa que precisarmos; irá nos ensinar tudo que precisarmos saber e guiar os nossos passos garantindo que nenhum erro ou engano será cometido. Isso é Emanuel, que é Deus conosco; e lembrar que isso absolutamente deve significar algum grau de efetiva realização, que é dizer, haver uma experiência na consciência, e não somente um reconhecimento teórico ou ideia desse fato; que não seja simplesmente falar sobre Deus, não importa o quão bela seja a fala, ou só pensar sobre Ele, mas sim algum grau de efetiva experiência. Devemos sim começar pensando em Deus, mas isso deve levar a realização, que é o pão de cada dia. Essa é a essência de toda a questão. Realização, que é a experiência, é o que realmente conta. É a realização que marca o progresso da alma. É a realização que garante a demonstração. É a realização, distintamente de meras teorias e palavras, que é a substância das coisas que esperamos, a evidência daquilo que está no invisível. Esse é o Pão da Vida, o maná escondido, e quando a pessoa consegue esse grau de realização, ela possui todas as coisas, em obras e em verdade. Jesus várias vezes se refere a essa experiência como pão porque é o nutrimento da alma, assim como um alimento é o nutrimento do corpo físico. Suprida com esse nutrimento, a alma cresce e se fortalece, gradualmente se desenvolvendo a estatura adulta. Sem isso, ela, sendo privada de seu alimento necessário, naturalmente se atrofia e deforma.
O erro comum, ou rumo errado tomado, é achar que um reconhecimento formal de Deus é o suficiente, ou conversar sobre coisas Divinas, talvez falar de maneira bastante poética, seja o mesmo que realmente possuí-las; mas isso é exatamente a mesma coisa que achar que só de olhar pra um prato de comida , ou discutir sobre a composição química de produtos alimentares diversos é a mesma coisa que comer de verdade a comida. Esse é o erro responsável pelo fato de fazer com que pessoas as vezes orem por anos sem nenhum resultado tangível. Se oração é uma força realmente, não é possível que se ore sem que nada aconteça. Uma realização não pode ser obtida com base em ordem; deve ser obtida espontaneamente através de oração diária habitual. Procurar obter uma realização através de força de vontade com certeza é o jeito de não obter nada. Ore regularmente e silenciosamente--lembre-se que em todo trabalho mental, esforço ou tensão derrota a si mesmo-- e então, talvez quando você menos espera, como um ladrão a noite, a realização virá. Enquanto isso é bom saber que todos tipos de dificuldades práticas podem ser triunfadas através de oração sincera, sem nenhuma realização qualquer. Bons oradores contam que obtiveram algumas de suas melhores realizações sem que fosse necessário ou importante falar sobre elas. Mas apesar de ser um grande feito superar essas dificuldades particulares, não obtemos a sensação de segurança e bem-estar a qual somos intitulados até não termos uma experiência de realização.
Outra razão pela qual o símbolo do alimento ou pão representando a experiência da Presença de Deus é tão importante é porque o ato de comer alimento é essencialmente uma coisa que só pode ser feita por si próprio. Ninguém pode absorver comida pelo outro. Uma pessoa pode contratar outras pessoas para fazer todos tipos de coisas pra ela; mas há uma coisa que só pode ser feita por ela, e isso é comer sua própria comida. Da mesma maneira, a realização da Presença de Deus é uma coisa que nenhuma outra pessoa pode ter por nós. Nós podemos e devemos ajudar uns aos outros a superar dificuldades específicas -- “Aliviai-vos os fardos uns dos outros”--mas a realização(ou tornar real) da Presença de Deus, a “substância” e “evidência”, só podem, pela natureza das coisas, serem obtidas diretamente em primeira mão.
Em falando sobre “o pão da vida, Emanuel,” Jesus chama de o pão de cada dia. A razão para isso é fundamental--nosso contato com Deus deve ser algo vivo. É o nosso contato momentâneo com Deus que governa nosso ser. “Eis que é agora o tempo de agir; eis que é agora o dia da salvação.” A coisa mais fútil que pode existir no mundo é querer continuar vivendo uma realização do passado. A coisa que deve significar vida espiritual pra você é sua realização de Deus aqui e agora.
A realização de hoje, não importa o quão fraca e pobre pareça ser, tem um milhão de vezes mais poder em te ajudar do que a realização mais vívida dos dias de ontem. Tenha gratidão pela realização de ontem sabendo que está com você pra sempre através da mudança de consciência que ela trouxe, mas não se apoie nela por nenhum momento para a necessidade do hoje. Divino Espírito já é, e não irá mudar com o fluxo e refluxo da apreensão humana. O maná no deserto é o protótipo disso no Velho Testamento. As pessoas vagando na região selvagem foram ditas que elas seriam fornecidas com maná do paraíso todo dia, cada um deles receberiam abundantemente para suprir suas necessidades, mas não deveriam de modo algum tentar guardar para o dia seguinte. Não era de valor algum elas se esforçarem para viver com o alimento de ontem, e quando, não obstante a regra, alguns deles tentavam fazer isso, o resultado era peste e morte.
E é assim com nós. Quando procuramos viver com base nas realizações de ontem, queremos na verdade viver no passado e viver no passado é morte. A arte de viver é viver no momento presente e fazer desse momento o mais perfeito que podemos através da realização de que somos instrumentos e expressão do Próprio Deus. A melhor maneira de se preparar para o amanhã é fazer do hoje tudo que ele deve ser.
Perdoai nossas ofensas
Assim como nós perdoamos
a quem nos tenha ofendido
Essa cláusula é o ponto de mudança da Oração. É a chave estratégica de todo o Tratamento. Vamos perceber aqui que Jesus estruturou essa maravilhosa Oração para que ela cubra todo o terreno para que nossas almas se desdobrem completamente, e da forma mais concisa e reveladora. Ela não omite nada que não seja essencial para nossa salvação, e ainda, é tão compacta que não há nenhum pensamento ou palavra a mais do que necessário. Toda ideia tem seu lugar com perfeita harmonia e em perfeita sequencia. Qualquer coisa a mais seria redundante, qualquer coisa a menos estaria incompleta, e nesse ponto atinge o fator crítico de perdão.
Tendo nos dito o que é Deus, o que é homem, como o universo funciona, como devemos fazer nosso próprio trabalho--a salvação da humanidade e nossas próprias almas--ele então explica qual é o nosso real alimento ou suprimento; e a forma a qual devemos obter esse alimento; e agora ele atinge o perdão dos pecados.
O perdão de pecados é o problema central na vida. Pecado é a sensação de separação de Deus, e é a grande tragédia da experiência humana. Essa tragédia está enraizada, é claro, no egoísmo. É essencialmente tentar obter um suposto bem ao qual não merecemos justamente. É uma sensação de isolamento, autorrespeito, existência pessoal, enquanto que a Verdade da Existência é que todos somos o Único. O nosso real eu é o eu único com Deus, não separado Dele, expressando Suas ideias, observando e testemunhando a Sua Natureza--o dinâmico Pensamento de Sua Mente. Devido a nós sermos um só com o grande Todo de qual somos espiritualmente integrantes, se segue que somos um todo onde não há separação real entre os homens. Só por estarmos vivendo nele, onde nos movemos e onde nosso ser está situado em vida, nós somos, de maneira absoluta, todos essencialmente uma coisa só.
O mal, o pecado, a queda do homem, de fato, é essencialmente a tentativa de negar essa Verdade em pensamento. Nós tentamos viver separados de Deus. Tentamos fazer as coisas sem Ele. Nós agimos como se tivéssemos vida por conta própria; agimos como mentes fragmentadas, separadas; como se pudéssemos ter propósitos, planos e interesses separados dos Dele. Se tudo isso fosse verdade, significaria que existência da vida não é na verdade harmoniosa e um conjunto único, mas sim um caos dominado por competição e conflito. Significaria que estamos totalmente separados uns dos outros e podemos nos fazer mal, roubar, nos ferir e até nos destruir, sem que não soframos nenhum dano em retorno e pior ainda, que quanto mais tirarmos do outro mais vamos ter pra nós mesmos. Significa que quanto mais considerarmos só os nossos próprios interesses, e quanto mais formos indiferentes quanto ao bem dos outros, melhor pra nós dessa forma. E é óbvio que, sendo assim, se segue de forma natural que devemos esperar que os outros irão nos tratar exatamente da mesma forma e, portanto, a maioria irá fazer exatamente isso. Agora, se fosse mesmo assim, significaria que o universo inteiro é uma selva e que, mais cedo ou tarde, ele deverá se auto destruir pela sua própria anarquia e fragilidade inerente. Mas claro que não é verdade, e é justamente nesse fato que está a alegria da vida.
Sem dúvida, muitas pessoas agem acreditando que isso é verdade, e muito mais pessoas ainda, ficariam apavoradamente chocadas se fossem colocadas cara a cara com essa proposta, mas possuem, mesmo assim, um vago sentimento de que é exatamente assim que as coisas devem ser, apesar delas mesmo, estarem pessoalmente agindo conscientemente de acordo com essa noção. Agora, essa é a causa básica real do pecado, do ressentimento, da condenação, da inveja, do remorso, e de todo o mal que se origina quando se percorre esse caminho.
Essa crença em independência e existência separada é o pecado principal, e agora, antes que possamos ir adiante, temos que pegar a faca e cortar esse mal pela raiz de uma vez por todas. Jesus sabia disso, e com esse objetivo em vista ele inseriu nesse ponto crítico uma afirmação cuidadosamente preparada que abrange o objetivo dele e o nosso, sem nenhuma chance de se perder o significado. Ele inseriu o que não é nada menos que uma cláusula de viagem. Ele redigiu uma declaração que nos força, sem nenhuma possibilidade de evasão, ou ressalva mental, ou fuga de qualquer tipo, de executarmos o grande sacramento do perdão em toda sua grandeza e vasto poder.
Conforme repetimos a Grande Oração inteligentemente, considerando e dando significado ao que lemos, somos pegos de surpresa e ficamos como se colocados em algo que nos imobiliza e não nos deixa escapar sem que enfrentamos o problema-- e não há saída. Devemos definitivamente e positivamente estender perdão a todos que possivelmente devemos perdoar por qualquer coisa, mais precisamente, pra qualquer pessoa que achamos que tenha nos prejudicado de alguma forma. Jesus não deixa espaço algum para poder se explicar quanto a essa coisa tão fundamental. Ele projetou sua oração com mais habilidade que qualquer advogado jamais demonstrou ao aplicar alguma ação. Ele a planejou tão bem que assim que nossa atenção tenha se direcionado a essa questão, nós somos inevitavelmente obrigados a perdoar nossos inimigos sinceramente e verdadeiramente, ou nunca mais repetir essa oração. É seguro dizer que ninguém que leia isso com entendimento seria capaz de utilizar a Oração Pai Nosso enquanto e até que não tenha perdoado. Se você tentar repetir ela sem haver perdoado, pode ser seguramente previsto que você não irá conseguir terminar. Essa grande cláusula central vai ficar presa na sua garganta.
Repare que Jesus não diz: “Perdoe as minhas ofensas e eu tentarei perdoar os outros,” ou “Irei ver se consigo perdoar, ” ou “Eu irei perdoar quase todos, com algumas exceções.” Ele nos força a declarar para que nós realmente perdoamos, e perdoamos a todos, e ele faz com que a reivindicação da nossa capacidade de perdão dependa disso. Quem que pode fazer suas preces com total graça, que não esteja desejando o perdão e cancelamento de seus próprios erros e defeitos? Quem seria tão maluco de se empenhar em buscar o Reino de Deus sem desejar se desfazer de sua própria sensação de culpa. Não há ninguém assim, isso é certo. Então notamos que estamos presos numa posição sem possibilidade de exigir nossa libertação enquanto não libertarmos nosso irmão antes através do perdão.
O perdão aos outros é o pórtico do Paraíso, e Jesus sabia disso, e ele nos levou até a porta. Você deve perdoar a todos que um dia te prejudicaram, se quiser que os outros te perdoem, essa é a versão longa e resumida da coisa. Você deve se livrar de todo ressentimento e condenação para com os outros, e, não menos importante, da condenação a si mesmo e remorso. Você tem que perdoar os outros, e tendo descontinuado seus erros, você deve aceitar o perdão de Deus por esses erros também, ou você não será capaz de fazer progresso. Você deve se perdoar, mas você não será capaz de fazer isso antes de perdoar os outros. Tendo perdoado os outros, você deve se preparar para se perdoar também, porque o ato de se recusar a perdoar a si mesmo é orgulho espiritual. “E por esse pecado os anjos caíram.” É crucial que tenhamos entendido totalmente essa parte, temos que perdoar. Há poucas pessoas no mundo que em algum momento não tenham sido machucadas, feridas muito profundamente, por outra pessoa; ou tenham sido decepcionadas, ou prejudicadas, ou enganadas, ou induzidas ao erro. Essas coisas criam raízes e se aprofundam na memória onde elas geralmente causam feridas inflamadas e dolorosas, e há somente um remédio--elas tem que ser arrancadas e jogadas fora. E a única maneira de fazer isso é através do perdão.
É claro, é fácil perdoar pessoas que não nos prejudicaram muito. Nada é mais fácil que elevar-se acima do pensamento de uma perda sem muita importância. Qualquer um pode fazer isso, mas o que a Lei da Existência requer é que não somente o perdão dessas coisas mais simples aconteça, mas também aquelas que são muito mais difíceis e que a princípio parecem impossível de sequer tentar fazer. O coração grita desesperado, “É muito que está pedindo de mim. Aquilo significa muito pra mim. É impossível. Não consigo perdoar aquilo.” Mas o Pai Nosso torna o nosso próprio perdão ser de Deus, e isso é a nossa fuga de culpa e limitação, que depende desse em específico. Não há saída a não ser perdoar, não importa o quão profundamente fomos prejudicados, ou quão terrivelmente tenhamos sofrido. Precisa ser feito.
Se as suas preces não estão sendo respondidas, então procure em sua consciência por alguém que você ainda não tenha sinceramente perdoado. Procure por alguma coisa que você ressente bastante. Procure e veja se você ainda não está guardando rancor(pode estar disfarçado por alguma forma de orgulho egoísta) para com alguém, ou algum grupo de pessoas, uma nação, uma raça, uma classe social, algum movimento religioso ao qual você desaprova talvez, um partido político, ou seja o que for. Se você procurar e encontrar alguma coisa, então você tem um ato de perdão a realizar, e quando tiver feito, provavelmente aquilo que você está pedindo será demonstrado pra você. Se no momento você não pode perdoar, então você vai ter que esperar a resposta de sua prece até você poder, e vai ter que esperar para concluir o Pai Nosso até lá também. ou irá se colocar na posição em que não aceita o perdão de Deus.
Libertar o outro pelo perdão é libertar a si mesmo, porque ressentimento é, na verdade, uma forma de conexão. É uma Verdade Cósmica que é necessário duas pessoas para fazer um prisioneiro; o prisioneiro--e o carcereiro. Não há nada do tipo de ser um prisioneiro por conta própria. Todo prisioneiro tem que ter um carcereiro, e o carcereiro é tão prisioneiro quanto quem ele aprisiona. Quando você guarda rancor de alguém, você está ligado com aquela pessoa, está conectado por um elo cósmico, uma corrente real, porém mental. Você está amarrado com um laço mental a aquilo que você odeia. A pessoa que você mais odeia no mundo é a qual você está mantendo conectada a você com um gancho que é mais forte que aço. É isso que você quer? É nessa condição que você deseja continuar vivendo? Lembre-se, você pertence a aquilo que mantém conexão através do pensamento, e num momento ou outro, se esse elo continuar, o objeto de seu ressentimento será atraído novamente para sua vida, talvez para causar ainda mais devastação. Você acha que pode lidar com isso? É claro que ninguém quer mais lidar com isso, então o caminho é claro e óbvio. Você deve eliminar todos esses laços, por um ato claro e espiritual de perdão. Você deve libertá-lo e deixar a outra pessoa ir. Pelo perdão, você liberta a si mesmo; você salva a sua alma. E porque a lei do amor age de maneira igual com todos, você ajuda o outro a salvar a alma dele também e torna muito mais fácil para o outro se tornar o que ele deve ser.
Mas e como, em nome de tudo que é sábio e bom, o ato mágico de perdão deve ser realizado, quando fomos tão profundamento prejudicados que, mesmo que estejamos desejando com todo nosso coração conseguir perdoar, chegamos a um ponto que é realmente impossível perdoar. Quando tentamos e tentamos de novo e de novo, mas a tarefa exige algo que está além do que é possível agora.
A técnica de perdão é simples o suficiente, e não tão difícil de lidar com, assim que você entende como fazer. O único requisito básico é desejo sincero de perdoar. Suprindo esse requisito de querer perdoar o ofensor, grande parte do trabalho já está feito. As pessoas sempre fizeram tanto caso em torno do perdão porque elas sempre tiveram a errônea noção de que você tem que se obrigar a gostar da outra pessoa. Felizmente essa noção está totalmente incorreta--não somos convocados a ter que gostar de ninguém que não tenhamos espontaneamente gostado de nos relacionar e, sem dúvida, é bem impossível gostar de alguém de maneira forçada. Ter que gostar de alguém é tão possível fazer quanto segurar vento com a mão, e se você se esforçar para coagir dessa forma, vai acabar não gostando ou odiando talvez mais do que antes. As pessoas achavam que quando alguém havia prejudicado elas, era obrigação delas agora, como bons Cristãos, intensificar um sentimento de simpatia para com o ofensor; e sendo que fazer isso é praticamente impossível, elas sofriam uma grande angústia, e acabavam necessariamente, falhando, e acabando com uma sensação de terem pecado por falhar. Nós não somos obrigados a gostar de alguém; mas estamos sobre uma obrigação irrefutável de amar a todas as pessoas, amor, ou caridade como a Bíblia fala sobre, significa ter uma sensação vívida de bondade impessoal com todos. Isso não tem nenhuma conexão direta com sentimentos, apesar de se seguir, mais cedo ou mais tarde, por um sentimento maravilhoso de paz e felicidade.
A maneira de se perdoar é essa: Fique sozinho e se torne quieto. Repita qualquer oração ou tratamento que seja conveniente pra você, ou leia um capítulo da Bíblia. Então diga silenciosamente, “Eu completamente e livremente perdoo X(mencionando o nome do ofensor); Eu liberto ele e o deixo ir. Eu completamente perdoo todo o assunto que nos envolve. Se depender de mim, está acabado para sempre. Eu lanço esse fardo de ressentimento ao Cristo dentro de mim. Ele está livre agora e eu também. Eu desejo o bem para ele em toda fase de sua vida. Aquele incidente está acabado. A Verdade de Cristo nos liberta a ambos. Eu agradeço a Deus.” Agora se levante e siga sua vida normalmente. Em nenhum momento repita esse ato de perdão, porque você já o fez de uma vez por todas, e fazer uma segunda vez seria recusar e negar seu próprio trabalho. Mais tarde, quando a memória do ofensor ou da ofensa acontecer na sua mente, deseje bondade e abençoe o ofensor brevemente e disperse o pensamento. Faça isso toda vez que o pensamento acontecer. Após alguns dias, o pensamento irá gradualmente acontecer menos e menos, até você esquecê-lo completamente. Então, após um intervalo, longo ou curto, o velho transtorno irá retornar como uma memória de novo, mas dessa vez você vai notar que toda a angústia e ressentimento de antes desapareceram, e você está agora livre com a perfeita liberdade dos filhos de Deus. Seu perdão está completo. Você irá experienciar uma alegria maravilhosa ao se dar conta que obteve uma realização e essa alegria é sua demonstração.
Aliás, todos nós devemos praticar o ato de perdão de forma geral todo dia. Quando você estiver fazendo suas preces diárias, emita uma anistia geral, perdoando a todos que tenham te prejudicado de alguma forma sem particularizar nenhuma pessoa em específico. Simplesmente diga: “Eu sinceramente perdoo a todos.” E ao longo do dia, se o pensamento do ofensor retornar, deseje bondade ao ofensor brevemente e disperse o pensamento.
O resultado de trabalhar dessa maneira será de, muito em breve, você ter se livrado do fardo de culpa, ressentimento e condenação, e o efeito disso em sua alegria, sua saúde física e na sua vida em geral será nada mais nada menos que completamente revolucionário.
E não nos deixe cair em tentação
Mas livrai-nos do mau
Essa cláusula causou provavelmente mais dificuldade do que qualquer outra parte da Oração. Para muitas pessoas realmente sérias tem sido um verdadeiro obstáculo. Elas sentem, corretamente, que Deus nunca poderia conduzir alguém a tentação ou a qualquer tipo de mau sob qualquer circunstância, e sendo assim essas palavras não soam verdadeiras.
Por essa razão, muitas tentativas foram feitas para remodelar essas palavras. As pessoas acham que Jesus não poderia ter dito o que ele não representa, então elas procuram por uma outra forma de colocar em palavras aquilo que elas acham que está mais de acordo com o tom geral do seu ensinamento. Esforços heroicos foram feitos para tentar distorcer o Grego original para algo diferente. Entretanto, tudo isso é desnecessário. A Oração como a temos hoje em Inglês transmite perfeitamente o verdadeiro significado espiritual. Lembre-se que o Pai Nosso abrange a totalidade da vida espiritual. Apesar de condensada da forma que está, é mesmo assim um manual completo para o desenvolvimento da alma, e Jesus sabia mais que perfeitamente os perigos sutis que podem e irão assediar a alma assim que os estágios preliminares do desenvolvimento espiritual fossem atravessados. Devido a aqueles que estão relativamente na fase inicial de desenvolvimento não experienciarem essas dificuldades, eles estão inclinados e terem a conclusão que essa cláusula é desnecessária, mas tal não é o caso.
Esses são os fatos--quanto mais você orar, quanto mais tempo se manter em meditação e tratamento espiritual, mais sensível você se tornará. E se você se comprometer mesmo e dedicar bastante tempo para trabalhar sua alma da maneira certa, você se tornará muito sensível. Isso é excelente; mas como tudo no universo, funciona em ambos os sentidos. Quanto mais sensível e espiritual você se tornar, mais efetivas e poderosas serão as suas orações, você irá curar melhor, e irá avançar muito rapidamente. Mas, pelo mesmo motivo, você se torna suscetível a formas de tentação que não assediam aqueles num estágio menos evoluído. Você irá notar também que para falhas comuns, falhas que muitos homens e mulheres consideram como sem importância ou triviais, você será severamente punido, e isso é muito bom, pois lembra você do seu estágio atual. Aquelas violações aparentemente normais, as “pequenas raposas que atacam nos parreirais,” iriam dissipar o nosso poder espiritual se não forem tratadas imediatamente.
Ninguém nesse nível será assediado com nenhuma tentação do tipo roubar alguém, assaltar uma casa; mas é claro que isso não significa que a pessoa não enfrentará dificuldades, e por causa da sutileza dessas dificuldades, se tornam mais desafiantes ainda para enfrentar.
Conforme avançamos, novas e poderosas tentações nos aguardam no percurso, sempre dispostas a nos atacar violentamente se não estivermos vigilantes--tentações para trabalharmos por glória pessoal, engrandecimento pessoal ao invés de para Deus; por honras e distinções pessoais, até para ganhos materiais; tentações de permitir que preferências pessoais causem desequilíbrio quando decisões são tomadas e sabemos que devemos nos relacionar com todas as pessoas de forma perfeitamente imparcial. Acima e além de qualquer outro pecado, o pecado terrível de orgulho espiritual, verdadeiramente “a última enfermidade da mente nobre,” se espreita no percurso. Muitas almas boas que triunfaram e superaram todos os outros obstáculos acabaram deslizando para uma condição de superioridade e autossuficiência que caiu como uma cortina de aço entre elas e Deus. Grande conhecimento traz grande responsabilidade. Grande responsabilidade se for traída acarreta em enorme punição mais a frente. O termo “nobreza obriga” aplicado a natureza do espírito é completamente verdadeiro. O conhecimento da Verdade de cada um, seja quão pouco for, é uma responsabilidade para com toda a humanidade que não deve ser violado. Mesmo sendo que não devemos desperdiçar nosso conhecimento com quem não se importa, nem falarmos sinceramente sobre a Verdade em locais onde ela não é bem-vinda, mesmo assim temos que, inteligentemente, fazer tudo que podemos para difundir o conhecimento sobre Deus entre a humanidade, que nenhum “desses pequeninos” possa ficar com fome do conhecimento pelo nosso egoísmo ou negligência. “Alimente meus carneiros, alimente minhas ovelhas.”
Os velhos escritores ocultistas eram tão intensos quanto a esses perigos que, com seus instintos de dramatização, falavam da alma sendo desafiada com diversos testes enquanto caminhava em direção ao caminho mais alto. Era como se o viajante fosse parado em vários portões ou pontos de pedágio, e testado com alguma prova difícil para determinar se estava pronto para avançar adiante e progredir. Se ele obter sucesso no teste, eles diziam, então tinha permissão de continuar e com a benção do desafiador. Se, no entanto, falhasse no teste, então era proibido de proceder. Agora, as almas com menos experiência, ansiosas por rápido desenvolvimento, desejam precipitadamente serem submetidas a todos tipos de testes, e até saem procurando, tentando encontrar desafios para superar; como se a própria personalidade de cada um já não oferecesse material o suficiente pra qualquer homem ou mulher ter que lidar com. Esquecendo da lição do próprio Senhor Jesus quando na selva, se esqueceram da determinação “Tu não tentarás o Senhor teu Deus,” e essas almas acabaram de fazer exatamente isso, com resultados muito dolorosos. E dessa forma Jesus inseriu essa cláusula nesse ponto, a qual oramos para que não tenhamos que enfrentar nada que seja demais para nós no momento atual de nosso entendimento. E se formos inteligentes e trabalharmos diariamente, como devemos, para obter sabedoria, entendimento, pureza e orientação do Espírito Santo, nunca iremos passar por nenhuma dificuldade a qual não temos entendimento necessário para nos limparmos. Nada poderá te machucar de alguma forma. Eis que estou convosco sempre.
És teu o Reino
e o Poder
e a Glória
para todo o Sempre
Essa é uma maravilhosa sentença resumindo a verdade essencial sobre a Onipresença e Grandiosidade de Deus. Significa que Deus é realmente Tudo por Tudo, o executor, a ação, e o feito, e pode-se afirmar também, o espectador. O Reino nesse sentido quer dizer toda a criação, em todas as dimensões, pois essa é a Presença de Deus--Deus como manifestação ou expressão. O Poder, é claro, é o Poder de Deus. Nós sabemos que Deus é o único poder, sendo assim, quando trabalhamos, assim como quando oramos, é na verdade Deus fazendo isso através de nós. Assim como o pianista produz sua música por meio de, ou através de, seus dedos, da mesma forma a humanidade pode ser pensada como sendo os dedos de Deus. O Poder é Dele. Se, quando você orar, você mantiver o pensamento de que é realmente Deus que está trabalhando através de você, suas preces ganharão incomensuravelmente em eficiência. Diga, “Deus está me inspirando.” Se, quando você tiver suas tarefas para fazer, você mantiver o pensamento, “Inteligência Divina está agindo através de mim agora,” você executará as mais difíceis tarefas com sucesso surpreendente.
A incrível mudança que acontece com nós a medida que nos damos conta do que realmente significa a Onipresença de Deus, é que todas as fases da nossa vida sofrem uma transfiguração, transformando tristeza em alegria, velhice em juventude, e tediosidade em luz e vida. Essa é a glória--e a glória que vem até nós, é claro, é a de Deus. E a alegria que entramos em contato nessa experiência é o próprio Deus, que está conhecendo-a através de nós.
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Nos anos recentes, o Pai Nosso tem sido reescrito na forma afirmativa. Nesse estilo, por exemplo, a cláusula “Venha ao nosso vosso reino, seja feita a vossa vontade,” se torna “É chegado o vosso reino, está sendo feita a vossa vontade”. Todo esse parafraseado é interessante e sugestivo, mas a importância disso não é vital. A forma afirmativa da Oração deve ser utilizada para todo processo de cura, mas é somente uma forma de oração. Jesus utiliza a forma de invocação muito frequentemente, apesar de não todas as vezes, e a utilização com frequência dessa forma é essencial para o crescimento da alma. Não deve ser confundido com oração de súplica, onde o sujeito se queixa e implora a Deus como um escravo suplicando ao mestre. Isso sempre é errado. A mais importante de todas as formas de oração é verdadeira contemplação, na qual o pensador e o pensamento se tornam um só. Essa é a união mística, mas é raramente experienciada nos estágios iniciais. Ore na forma que for mais fácil e natural para você; porque a forma mais fácil sempre é a melhor.
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Venha a mim todos vocês que trabalham e carregam fardos e eu vos aliviarei.
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O Senhor é minha luz e minha salvação; a quem devo temer? O Senhor é a força em minha vida; de quem posso ficar medo?
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Apesar de uma tropa se acampar contra mim, o meu coração não temerá: mesmo se uma guerra for levantada contra mim, nisso serei eu confiante.
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Quando passares pelas águas, eu estarei contigo; e pelos rios, eles não te inundarão: quando andares pelo fogo, tu não será queimado; nem a chama arderá em ti.
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Contanto que ele tenha buscado o Senhor, Deus fez com que ele prosperasse.
FINI
Traduzido por: Alan Rodrigues
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